5.07.2009

Cannes 2009 (3)

"Pedro Costa, João Pedro Rodrigues, João Salaviza, João Nicolau, Mónica Baptista estão de partida para o Festival de Cannes. Levam na bagagem uma actriz/cantora francesa, um travesti, uma chave mágica, um detido em prisão domiciliária e o Expresso do Oriente."

in Público

Barcelona 09/10

Depois de ter concorrido, ter sido seleccionado, me ter convencido que iria viver seis meses em Paris, as equivalências de cadeiras impediram-me de tal. Pois bem, depois do longo e intenso dilema "e agora?! Para onde vou?!", São Paulo e Barcelona foram as finalistas. E, depois dos prós, dos contras, das opiniões e das contra-opiniões, dos conselhos e vontades, Barcelona e a Universitat Autònoma de Barcelona foram as eleitas. Seis meses na cidade Erasmus!
Agora coloca-se o segundo grande dilema: "onde vou ficar a morar tanto tempo?!". Residência de Erasmus em Barcelona procura-se! Tempo: de Setembro de 2009 e Fevereiro de 2010!

University of California Berkeley

Depois de longas e penosas semanas à espera da confirmação, chegou hoje: faltam 18 dias para ir para a University of California, Berkeley. 6 semanas! (Esperemos que venha de lá um verdadeiro poliglota!).

This is England

Nada melhor que uma ida ao cinema a meio da semana da Queima das Fitas. Ressaca-se, destila-se o álcool, pensa-se (pelo menos uma vez por semana), enfim, dá-se folga ao fígado.
Depois de algumas reticências de parte alheia/de terceiros quanto à escolha do filme, contemplou-se This is England - Isto é Inglaterra de Shane Meadows.
O filme é muitíssimo bom.
Se por um lado Meadows filma o retrato de um país, (a Inglaterra), de um tempo e de uma época bem definidos, de uma sociedade e de uma geração muito próprias e distintas das restantes; por outro lado não se distancia do particular, analisando a vida de uma tribo urbana muito díspar e característica entre si, mas com factos similares marcantes: uma crise de identidade, uma ausência de referências, uma crise de valores (tão presente nos nossos dias) mais, como afirmou Jorge Mourinha "filhos sem pai".
O tempo é o Verão de 1983. O espaço é a Inglaterra de Margaret Thatcher. Posto isto, sem dúvida alguma diríamos que se tratava de um filme histórico e de certo modo, ultrapassado. Embora se trate sim de um drama realista histórico, os problemas e as temáticas que aborda são deveras contemporâneas: o racismo, a guerra, os nacionalismos violentos, os movimentos neo-nazis, os skinhead, a imigração, a tolerância e a falta dela, o desemprego, a exclusão social, a educação, enfim, enfim. A actualidade da película é inquestionável e, isso torna-a uma pérola.
This is England relata-nos de uma forma crítica e de uma forma própria de olhar a sociedade e o outro, a história de Shaun, um rapaz de doze anos, órfão de pai, com o pai morto na Guerra das Malvinas, em crise de identidade, num vazio de valores, Shaun é o bobo da corte da escola que frequenta. E, no meio de tudo isto, os únicos que lhe dão a atenção de que precisa são um grupo de skinhead (pacíficos, ainda assim). A situação destabiliza-se aquando da libertação de Combo, um mix de líder violento e um convicto apoiante das SS de Hitler que chora, quase numa assunção de qual donzela arrependida. O momento em que Combo agride Milk (o negro do grupo), caluniando-o, ofendendo-o pela sua raça e cor de pele, não estamos perante uma agressão de teor racista mas sim pela fraqueza e fragilidade familiar de Combo. Também ele não tem pai, também ele não tem referências adultas.
This is England, tem tudo, um argumento sublime, excelentes interpretações e uma realização fora de série: num tempo em que a comunicação (pelo menos no mundo para cá da "cortina de ferro") já era democratizada e conhecida de e por todos, o realizador através de um óptimo trabalho de montagem, combina a narrativa com sons de época vindos das TV e das rádios. Mais, a própria imagem do tempo da acção mostra-se gasta e bastante antiga, parecendo-nos um filme realizado em 1983 (o tempo da narrativa). Tal facto sublinha, recorrendo a aspectos de natureza técnica, mais uma vez a contemporaneidade da longa-metragem.
Nada falha, tudo é 80s, e Shane Meadows hiperboliza tudo o que é 80s: desde os carros, os cubos mágicos, as cozinhas, a moda, a música (tem uma óptima selecção musical e uma banda sonora única), os hábitos, tudo. O pormenor dos aspectos ditos secundários é tal que se torna obsessivo.
Em suma, e agora numa crítica social e política sobre algumas questões que This is England se farta de reflectir, vejamos: como disse acima, o filme não está distanciado temporalmente de hoje, o radicalismo neo-nazi e neo-fascista está a ressuscitar nos países como maior história democrática europeia. Não são apenas tribos sociais (que acolhem negros, como neste filme), são tribos políticas que têm um discurso de tal forma enganador que por vezes nos parece apetecível de aderir. Falo por mim. São falsas verdades. P.e., quando Combo afirma que parte da classe média britânica não tem emprego porque os emigrantes, em particular os paquistaneses "se apoderaram de todo o tecido laboral" e que devem ser destituídos e extraditados para os seus países de origem, isto não passa de uma autêntica falsa verdade. Primeiro, ele próprio não trabalhava porque não queria e era tudo menos cumpridor da lei (afinal, já tinha estado preso); segundo, o outro tem todo o direito àquilo que podemos oferecer. O ocidente representa o sonho da liberdade, da democracia, do respeito, da tolerância e da justiça, e se durante anos patrocinámos tudo isto não me parece que faça hoje sentido "exportar" como se de mercadoria se tratasse seres humanos sérios e trabalhadores para o mundo opressor e com fome de que fugiram.

Nota: 5, excelente.