2.08.2009

O dia do regicídio

Concordo (com alguma e, certa) crítica quando afirma que a fraca qualidade da produção televisiva nacional é uma realidade. Basta perder-mos uns singelos cinco minutos para ver o que quer que seja produzido pelo canal, outrora da Igreja, hoje, vulgo TVI. Não faltam (infelizmente, muitos) exemplos da péssima qualidade de séries, telenovelas, e outras, produzidas pelo quarto canal, senão vejamos: os "actores" vão rodando de produção em produção, não porque tenham uma versatilidade tal que os permita a isso mas, porque os contratos assim o exigem; afinal basta estarem inscritos numa qualquer agência de modelos para que sejam catapultados para os "Morangos com Açúcar" e daí por diante; os textos são além do clichet do costume (o marido que trai a mulher com a cunhada, ou as irmãs separadas à nascença, enfim), não havendo portanto criação argumentativa alguma.

Contudo, no âmbito da matéria em causa há excepções (não da TVI, claro!). A série "O dia do regicídio" (RTP 2), da autoria de Filipe Homem Fonseca e Mário Botequilha e, realizada por Fernando Vendrell é prova disso mesmo. Este conjunto de seis episódios conta-nos o antes, o próprio regicídio, e o depois deste. Com sublimes representações nomeadamente de Ricardo Aibéu (Manuel Buíça), Pedro Wallenstein (Dom Carlos), Pedro Carmo (Aquilino Ribeiro), Suzana Borges (Dona Amélia), Manuel Wiborg (Alfredo Costa), Adriano Luz (João Franco), Virgílio Castelo (Afonso Costa), João Grosso (Luz Almeida), ou ainda Diana Costa e Silva (Maria), são um óptimo exemplo da qualidade da ficção nacional. Além das já classificadas interpretações, tanto todo o guarda roupa como os espaços estão a rigor.
De destacar ainda, que em apenas seis episódios, consegue o espectador apreender a construída (e bem), densidade psicológica de alguns personagens como Manuel Buíça, um homem que, como o próprio escreve em testamento no dia 1 de Fevereiro de 1908, nada tem, deixando assim os seus dois filhos "pobríssimos", pedindo à personagem de Diana Costa e Silva (Maria) que os eduque nos valores da Liberdade, da Igualdade, e da Fraternidade, e, pelos quais morrerá.

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