2.13.2009

The Reader

Há já muito tempo que não saía do cinema deslumbrado, encantado, rendido, enfim, maravilhado com o filme que acabara de ver. Pois bem, foi hoje (e, nada melhor para começar este tempo em que os códigos e afins se podem arrumar na estante).
The Reader - O Leitor, realizado por Stephen Daldry conta-nos uma história digamos que diferente, da vida, do amor, do tempo. Tudo começa com um encontro casual entre Hanna, uma mulher mais velha, e Michael, um "miúdo"- termo pelo qual ela o tratava. Volvidos três meses sem se encontrarem, por ele estar doente, o aparente encontro de circunstância do início dará lugar a algo, a que, comummente o senso comum chama de paixão. Os dois, iniciam uma relação que exterioriza à primeira vista apenas sexo, estando no entanto verdadeiramente além do meramente observado. Mantêm durante o último Verão dos anos 50, uma relação onde o meio de comunicação verbal é a literatura (Michael lê-lhe quase como que ritual preliminar clássicos como Homero, Tchekhov, ou Dostoievski) e, o meio de comunicação corporal é quase animalesco. Começam por não saber porque forma se chamariam e, acabam sem conhecerem nada de nada um do outro. Nisto, Hanna desaparece. Passados oito anos, Michael, estudante de Direito em Heidelberg, reencontra a mulher enquando arguida num julgamento de crimes de guerra cometidos durante a II Guerra Mundial pelos nazis. Aí, vem a descobrir a verdadeira Hanna que lhe dissera "não me queiras conhecer". Desolado assiste à leitura da sua sentença (em parte injusta), ficando estupfacto e deveras perturbado por esta ter sido um soldado das SS em campos de concentração.
A fita aborda, as temáticas ancestrais e civilizacionais da moral, do bem e do mal, e sobretudo, da culpa (sempre tão presente na literatura russa). A culpa dela pelo seu passado sem humanidade que a levou a matar mulheres judias em Auschwitz; a culpa dele por não ter revelado o analfabetismo de Hanna em tribunal.
A perfeição desta longa-metragem é tal, que a repetição de pormenores, gestos e pequenos diálogos é claramente propositada. Stephen Daldry "brinca" com o tempo como nenhum outro realizador, torna a mulher enquanto ser, o centro do filme (tal como em The Hours) cria momentos e diálogos que subsistem na nossa memória, desenvolve espaços físicos e ambientes que amparam toda a narrativa ao longo ao longo dos quase quarenta anos em que esta vai decorrendo, escolhe Nico Muhly como autor da exelente banda sonora, como se o som que produz fosse propositadamente criado para este filme.
Kate Winslet interpreta o papel da sua vida, está perfeita, melhor do que nunca; toda a sua caracterização física e de atitudes revelam uma mulher sofrida, crua, gélida, ainda assim, humana. O realizador conseguiu desfigurá-la, tal como o fez a Nicole Kidman em The Hours. Apesar de não superar o seu desempenho em The English Pacient, Ralph Fiennes é o actor perfeito para a interpretação de Michael Berg. O olhar deprimido e deprimente de pessoa reservada que, tão bem sabe fazer estão caracterizadores de um homem agarrado ao passado, como se pretende.

Nota: 10

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