4.15.2009

The Argentine - Che: Part One

Ao fim de algumas (bastantes) semanas de ausência das salas e, do mundo do cinema, decidi (antes que saia de vez do grande ecrã) ver hoje The Argentine - Che: Part One - Che - O Argentino, a mais recente obra de Steven Soderbergh. Um filme que estreou em Portugal na abertura do FantasPorto 2009 e que, não pude ver por estar de férias em Roma.
Che - O Argentino é uma película ímpar, quando se trata de avaliar os diversos filmes que já se realizaram sobre a vida (ou parte dela) de Ernesto Guevara. Neste, Soderbergh inicia a acção presente do filme no início dos anos cinquenta aquando da subida ao poder pelo General Baptista. Mais, depois de contextualizar histórica e temporalmente a narrativa, faz referência ao primeiro encontro entre "Che" e Fidel Castro, mostrando em que circunstâncias ambos se conheceram e preparam La Revolución. A ocupar a quase totalidade da longa-metragem encontramos as conquistas e outros episódios dos rebeldes comunistas a caminho de Havana. Contudo, Soderbergh surpreende quando num sublime trabalho de realização e montagem introduz sucessivas prolepses temporais na acção, em concreto: a ida de Guevara enquanto representante de Cuba à 19ª Assembleia Geral das Nações Unidas em 1964, nos EUA. A história é esta, apenas.
O que mais surpreende e, consequentemente torna Che - O Argentino um bom filme são sem dúvida os aspectos e outros pormenores e "tiques" da realização de Steven Soderbergh. A recorrência dos sons das montanhas cubanas é uma constante no caminho de Ernesto até à capital mas, sobretudo, a realização de um "Che" de tipo documental aquando da sua ida a NYC em 1964 é brilhante: uma mostra (forçada naturalmente) de uma realização pouco cuidada/tratada, o uso do príncipio ao fim do noir, além das parecenças físicas de todos os personagens secundários com os homens reais; a confusão linguística que por vezes se instaura na acção só a torna ainda mais realista e enriquecedora, bem como, o cuidado na caracterização física dos personagens e dos espaços está extraordinário.
É ainda de notar que, se por um lado "Che", o homem, o revolucionário, o médico muitas vezes se confunde com a própria Revolução Cubana e com o comunismo latino-americano, facto é que o realizador e claro, o próprio Benicio Del Toro - com uma interpretação sublime, alías vencedor da Palma de Ouro de Cannes - constroem um (lado humano) ao personagem: além de "Che" ser permanentemente focado pelas câmaras, tornando-se os restantes personagens "super secundários", é-lhe acrescido um certo lado comum, digamos, um pouco mais sentimental.
Por outro lado, enquanto a acção de per si parece não ter (grandes desenvolvimentos) ao nível da trama, o intercalar com imagens (quase em reportagem em directo) dos 60s de Guevara na AG ONU tornam a narrativa muito heterogénea e variada.
Em suma, e, numa (reduzida) reflexão política sobre quem foi e o que ainda representa Ernestro Guevara de notar que quando afirma que "um povo iletrado é um povo que se deixa manipular", e tendo em conta a realidade social de Cuba na época, não terá ele também manipulado esse mesmo povo iletrado a segui-lo para a sua La Revolución?! Certamente que sim, no entando, deixarei mais comentários desta natureza quando vir a segunda parte do filme.
Nota: 4

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