4.28.2009

Capitães de Abril

Depois do frenesim de mais umas comemorações do 25 de Abril, e a propósito dos 35 anos ou 33 anos de democracia em Portugal (também aqui a doutrina diverge, opto pela menor data), vi ontem o filme Capitães de Abril, realizado por Maria de Medeiros.
A narrativa do filme é a história dos dias 24 e 25 de Abril de 1974 no nosso país. É comum que em qualquer data ou acontecimento histórico com alguma importância para o curso da vida de um qualquer país, se percam as pessoas e apenas se recordem os factos, se esqueçam os homens e as mulheres para que os dados históricos prevaleçam na memória (colectiva) de uma nação. Posto isto, infelizmente ou não, a Revolução que pôs fim ao Estado Novo e à ditadura, não fugiu à regra. E, nisso, Maria de Medeiros foi mestra dando alguma vida humana, alguma personalidade e personalismo individual ao 25 de Abril: existiam pessoas, que tinham as suas vidas, ao mesmo tempo tão distantes e tão próximas entre si.
Gostei do filme. Não só pelos aspectos técnicos e de realização (que abordarei à frente), mas sobretudo pelo retrato do acontecimento em si do 25 de Abril. Podemos não gostar do que se seguiu. Pessoalmente repugno, afinal iríamos voltar a mais do mesmo (PREC). Contudo, qualquer um que tenha em si um espírito de mudança e de valores tão nobres como a liberdade e a democracia, não pode não gostar do 25 de Abril. Ainda assim, admito tal como o Miguel Sousa Tavares que, a euforia anual do 25 de Abril e as suas comemorações qualquer dia desvalorizam o próprio acontecimento histórico em si. Com isto, não menosprezo de todo a data mas, não admito que ainda haja alguma esquerda que advogue que o 25 de Abril é sua propriedade privada (aliás, seria algo irónico já que são contra a própria propriedade privada).
Voltando ao filme: é interessante perceber o dilema que na altura alguns oficiais militares e outros viviam, entre uma formal obediência hierárquica e um dever moral de consciência; entre serem aplaudidos como heróis ou vaiados como assassinos de guerra. Este é outro dos aspectos que Maria de Medeiros também aborda diversas vezes ao longo da película, e bem.
Por um lado, de notar a sublime interpretação de Stefano Accorsi, no papel de Salgueiro Maia e, por outro lado, a fantástica caracterização dos personagens e dos espaços tão "típicos" e próprios da época, mostrando também como a capital "do império", Lisboa, também tinha os seus "q" de ruralidade e atraso, portanto imaginemos o resto da "paisagem lusa"...
Merece também referência a belíssima imagem que Medeiros recorrentemente se serve: a entrada dos tanques e outros veículos militares numa Lisboa deserta de gente.
Capitães de Abril foi vencedor do prémio do público do Festival de Arcachon, além de ter ganho na qualidade de melhor filme a Mostra Internacional de São Paulo em 2000.
Nota: 3, bom.

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