4.21.2009

Linha de Passe

Como disse aquando da penúltima crónica - Diarios de Motocicleta, de Walter Salles - estava bastante curioso e expectante com a recente película do cinema brasileiro, Linha de Passe, um filme também do mesmo realizador, desta vez co-dirigido por Daniela Thomas.
É bom, mas nada de surpreendente.
A concreta película tem como palco da acção e da narrativa a cidade de São Paulo, a maior cidade da América Latina, uma das maiores metrópoles do globo. O filme consegue que sintamos toda a agitação, todo o caos, enfim, toda a cidade por inteiro. Respira-se São Paulo.
Desde o fenómeno A Cidade de Deus, (um dos meus filmes de eleição), que a produção de cinema brasileiro se acorrentou excessivamente à temática da favela e dos problemas sociais. Linha de Passe não foge (infelizmente) à regra. Walter Salles e Daniela Thomas apresentam-nos um retrato de uma sociedade cada vez mais à beira da rotura, de uma sociedade (exagerando) quase pré-revolucionária, mais, de uma sociedade não coesa e numa permanente luta de classes contemporânea.
A narrativa principal conta com cinco personagens: uma mãe e quatro filhos todos de pais diferentes, estando a primeira mais uma vez grávida não sabendo quem é o pai. Todos os personagens são a tipificação de uma certa sociedade paulista, de uma certa sociedade brasileira. Cleusa, a mãe, é uma mulher amargurada com a vida, abandonada pela sorte, entregue ao seu próprio destino, empregada doméstica em casa de mauricinhos, trabalha para se alimentar a ela e aos filhos. Denis, o filho mais velho, é paquete passando a vida a deambular de mota pela urbe de São Paulo; pai de uma criança, torna-se num ladrão. Dário, outro dos filhos, é o protótipo do aspirante a futubolista por necessidades económicas. Dinho, honesto, trabalhador, apresenta-se-nos como um fundamentalista religioso, o representante daqueles que encontram na religião o único ponto de fuga para tudo o resto. Reginaldo, o filho mais novo e o único de pele negra, passeia-se o dia inteiro de autocarro pela cidade para lá e para cá, tentando desesperadamente obter a atenção da mãe e, acima de tudo, encontrar o pai. Vidas que apenas por laços familiares se encontram e cruzam, afinal, todos os personagens se nos vão sendo caracterizados pelas suas rotinas solitárias e repetitivas.
Acerca dos aspectos de realização de notar a intiligente passagem de história de um personagem para outro, além da palete de cores utilizada.
Linha de Passe, aparenta-nos por vezes um conjunto de lugares comuns à la carte e de situações sem novidade, pior, previsíveis. Factos que não abonam nada a favor do filme. No entanto, um bom exercício de um pós-realismo sócio-cultural.
Nota: 3
(Ainda bem que a sorte me reservou Barcelona e não São Paulo!).

1 comentário:

  1. gostei do filme...e para o panorama actual do que está em cartaz linha de passe é uma pérola...

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