4.28.2009

A passagem da noite

A noite de ontem foi no mínimo nacional. Dois filmes portugueses num verdadeiro serão de mantas axadrezadas e ar condicionado a 31º!

A Passagem da noite, de Luís Filipe Rocha é a realização cinematográfica daquilo a que se pode chamar um exemplo académico ou case study de Direito com uma infeliz possibilidade prática e factual.
A película conta-nos a história de Mariana, uma jovem de 17 anos que, depois de vir do enterro de um amigo, também ele de 17 anos, acaba sendo violada numa barraca da praia de Carcavelos. Dessa violação, Mariana fica grávida, escondendo de todos esse facto, querendo por tudo acabar com esse estado (de graça), não contando nada aos pais nem à polícia.
Contrariamente àquilo que se resolve numa Faculdade de Direito: a estrita solução jurídica do problema, em que a especial atenção é dada ao agente criminoso e não à vítima, Luís Filipe Rocha (apesar de licenciado em Direito) inverte os sujeitos.
O filme é bom e, por ter um argumento consistente e provocador é-lhe exigido mais, portanto, infelizmente mal aproveitado.
É a realização das desigualdades sociais, da pobreza, da prostituição, da exclusão social, enfim, da droga e que nos vai colocando difíceis questões (quase de consciência individual): se é preferível uma vida de miserável ou a morte; a eterna máxima de Platão "aquele que faz a injustiça é mais infeliz que aquele que a sofre"; a vergonha familiar ou um silêncio suturno; a culpa, (mais uma vez).
Por abordar questões como as acima referidas Luís Filipe Rocha podia ter ido mais longe, não se cinjindo à mera constatação real das mesmas.
Alguns aspectos importantes e que por vezes passam despercebidos durante o filme: primeiro, tal como o amigo de 17 anos que morrera, Mariana morre para a inocência, morre para a adolescência, vendo-se obrigada a encarar de forma muito crua a vida agora de adulta; a promiscuidade entre a Polícia Judiciária e algumas enfermeiras aborteiras não deixa de ser um ponto a reflectir.
Este é um realizador que torna a narrativa extremamente dependente dos espaços físicos (muito bem caracterizados por sinal): por um lado, os primeiros minutos da longa-metragem (em que Rocha filma o bairro em que vive a personagem de Leonor Seixas) além de serem reveladores dos "guetos" que a actual sociedade cria, das condições urbanísticas e humanas que lá se vivem, entre outros, assinalam a maior propensão social daquelas pessoas a fenómenos como a prostituição ou a drogra, p.e.,; por outro lado, a repetição exaustiva do túnel da praia da Carcavelos (local do primeiro encontro entre Mariana e o Gadelhas) torna-se o espaço físico por exelência de todo o filme.
Nota: 3, bom.

1 comentário:

  1. pena...que certos filmes que também são vistos por ilustre critico de cinema não sejam comentados...

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