3.13.2009

Adam resurrected

Uma estreia que mais parecia ter uma audiência de um qualquer filme em exibição há semanas, ou mesmo meses no grande ecrã: apenas 8 "cinéfilos". Admito que os mais entusiastas com "as estreias da semana" tenham visto, e claro, enchido a big room de Bride wars - Noivas em guerra, ou, Gran Torino de Clint Eastwood (no qual, tenho uma enorme expectativa).

Adam resurrected - Adam renascido, de Paul Schrader, (realizador que nos anos 70 trabalhou com Sydney Pollack, Brian De Palma ou ainda, Martin Scorsese), é o filme da obra homónima de Yoram Kanuik.
É uma longa-metragem surpreendentemente diferente do registo de obras que estamos habituados a ver, mais, a ideia de filme (sempre concebida a priori de o vermos) é completamente arrasada quando o pano cai.
A concreta película, aborda do princípio ao fim, um lado por vezes esquecido de tudo o que acontece (de mau) e, aconteceu (de muito mau) na História da Humanidade: aqueles que a isso sobreviveram. Adam resurrected tem localização espácio-temporal em Telavive, nos início dos anos 60, em particular, numa clínica psiquiátrica instalada no deserto. Nela, além do pessoal médico, vivem individúos (presas), sobreviventes do Holocausto nazi (judeus alemães). Pessoas que mais parecem marionetas de uma memória que as aprisiona, de um passado que lhes foi cruel. Vidas de seres humanos que mais parecem esquecidas por uma sociedade moralizante do pós-Guerra. Este é o contexto que surge para contar o passado de Adam Stein, um palhaço, um mágico artista, enfim, um comediante famoso na Alemanha pré-Guerra. No entanto, também ele, um homem normal, comum, com família, pai, tendo contudo, um sentido de humor sempre apuradíssimo. Anos depois do começo da Guerra, o protagonista é enviado com a sua família para um campo de concentração onde, ao chegar é separado desta, para servir de entretenimento a Klein - Comandante nazi. Klein, um homem obediente (afirma, como que desculpabilizando-se com o "fenómeno nazi" que, não é ele quem faz as regras; mais, sem regras reinaria o caos), frustrado, enfim, com enormes problemas de auto-estima, transforma Adam no seu segundo "Rex", ou seja, no seu segundo cão de estimação: Adam é o seu biblô humano. Este é o trauma de Adam: tornou-se quase instintivo como um cão e, não conseguiu salvar a sua mulher e a filha mais nova dos "fornos". Apesar de tudo, sobrevive.
Um filme, onde a fé individual é constantemente posta em causa, onde os porquês à própria História sucedem-se sem respostas, onde a memória é colocada como um inimigo pior do que Hitler, enfim, onde o passado vivido é visto quase como um castigo. Um filme extremamente simbólico e figurativo: o aprender a ser um ser humano de David, com a libertação psicológica/"cura pós-traumática" de Adam, são exemplo disso. Um filme que, muitas vezes parece conter algo de não real, quase mágio, ou mesmo surreal, sabendo que trata de uma temática provada como acontecida.
De notar ainda alguns aspectos de realização: Paul Schrader mistura cinema toutes les couleurs com cinema noir. O primeiro preenche a maioria da longa-metragem simbolizando o "pós-trevas nazi", o segundo, todas as "memórias Klein", isto é, todo o tempo passado no campo de concentração e, anos antes no "Circo Adam", enfim, todo o tempo em que Hitler era "rei e senhor" (ou achava-se!). Mais um exemplo (no caso, técnico), onde a simbologia está presente e faz questão em se notar.
Nota: 8

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