3.20.2009

Manhattan

Depois de ter escrito acerca de Vicky Cristina Barcelona e, em concreto sobre Woody Allen afirmando: "mais, só não o adorei porque não sou propriamente fã do realizador", senti que fora algo "vago", melhor, pouco explicativo com a mesma expressão, no limite, quase injusto para com o cineasta. Precisamente por isto, não servirá a presente crónica como uma expressão contraditória à opinião publicada anteriormente sobre Allen, mas antes como uma opinião acerca de um filme (que adoro) incontornável na história da "Sétima Arte", e que torna Woody Allen um bom realizador.
Manhattan é se não o melhor, um dos melhores filmes de Woody Allen (a par com Annie Hall, The purple rose of Cairo ou Hannah and Her Sisters, p.e.).
Manhattan, que tem como protagonista, Allen, (além da interpretação e da realização, este foi também argumentista, juntamente com Marshall Brickman) conta a história de Isaac Davis (Woody Allen), um escritor de comédias de 42 anos, e a sua relação com Tracy (Mariel Hemingway), uma "miúda" ou litle girl (como o próprio a chamava) de 17 anos. A "isto", junta-se a friend couple, Yale Pollack (Michael Murphy) e Emily (Anne Byrne). Entretanto surge Mary Wilkie (Diane Keaton), uma philadelphier que "anda enrolada" com Yale. Entretanto já existiam Jill (Meryl Streep, num dos seus primeiros papéis), ex-mulher de Ike/Isaac, e a sua girlfriend. A meio do filme o protagonista envolve-se com Mary, deixando Tracy, vindo mais tarde Mary a reatar com Yale, e Isaac a tentar uma segunda vez com Tracy. Enfim, um turbilhão de relações que se continuasse a escrever pareceriam algo do outro mundo, no entanto, Allen simplifica-as de uma forma tão inteligente que no fim do filme tornamo-nos quase todos convictos de um certo anarquismo emocional e/ou relacional.
A longa-metragem é a pura manifestação da idolatração (em 1979) do realizador a New York City. Arrisco-me a dizer que é NYC a grande protagonista do filme, por vezes, parece-nos que Woody Allen não ignorando ou diminuindo a trama, secundariza-a para dar lugar à sua cidade: este, deixa de filmar os personagens para filmar NYC, toda ela, por completo, e com uma paixão que só ele consegue transportar para o ecrã. Poderá não ser para alguns um serão agradável ver cinema noir, contudo, só assim conseguimos sentir tudo o que WA quer com este filme.
De notar que a personagem que interpreta (Isaac Davis) é de uma densidade/complexidade psicológica incrível: ele é satírico, com uma ironia que só Allen sabe ter, inteligente, fala de Arte, Literatura, Cinema, Beleza, Vida e Morte, Sexo, muito Sexo, ele é o típico personagem que à primeira vista só por "andar" com uma "miúda" de 17 anos seria um tipo porco, deplorável, execrável, contudo, ele é tudo menos isso, é baixo, desajeitado, sem filtro naquilo que diz, por vezes azarado. Ele é quase um auto-retrato de Woody Allen.
Há um momento sublime in the end of the film, quando WA monologamente afirma que os Manhattanianos criam neuroses para si próprios evitando "problemas insolúveis e aterrorizantes sobre o universo". Com expressões de um humor inegável como, "a bisbilhotice é a nova forma de pornografia" ou ainda "quanto a relações com mulheres, eu devia receber o prémio August Strindberg"; com uma óptima banda sonora de George Gershwin, acompanhada pela Orquestra Filarmónica de Nova Iorque; Manhattan é, e citando Angela Errigo o "auge estático do romance cinematográfico entre Woody Allen e Nova Iorque".

Nota: 10

(Diz-se que comprei o cartaz/poster de Manhattan em Roma e que ficou algures num táxi a caminho do aeroporto Leonardo Da Vinci, esperando eu que já se encontre a caminho da Rua dos Vanzeleres).

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