3.16.2009

Vicky Cristina Barcelona

Um dia complicado o de hoje: depois de mais uma reunião de ERASMUS na faculdade, lá fui, obrigado por certas "administrativices", à loja do cidadão tratar de coisas muito chatas. E não é que me deparo com 3 horas e muitas de fila de espera?! Medo. Ainda tentei ler a Courrier Internacional mas de nada adiantou o tédio social dos serviços de Segurança Social. Tinha portanto que ocupar o meu tempo. Pois bem, passados meses da estreia de Vicky Cristina Barcelona, do mestre Woody Allen, e, prestes a sair da única sala de cinema do Porto onde ainda está a ser exibido, decidi ocupar de alguma forma o meu tempo de espera vendo a mais recente obra do cineasta nova-iorquino.
De notar que, muita gente me aconselhou a não ir ver, dizendo, "não vás é mau", "não é Woody Allen de forma alguma", "é uma seca", "a história é sempre a mesma", enfim, "aluga depois o filme em DVD". Depois disto, estranhamente a minha curiosidade só aumentou e digo, gostei muito do filme, (mais, só não o adorei porque não sou propriamente fã do realizador).
A película diz tudo com o título, no entanto, este também poderia ter sido, Vicky Juan Oviedo, Cristina Juan Maria Barcelona, Vicky Cristina Juan Barcelona, entre outros. A narrativa, também ela escrita por Woody Allen, conta-nos o Verão em Barcelona de duas amigas: Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson). A primeira, muito objectiva, racional, quase puritana; a segunda, o oposto, deveras sentimental, aventureira, muito temperamental. Numa galeria de arte catalã conhecem Juan Antonio (Javier Bardem), um pintor catalão com o típico "ar de artista", e aí começa o filme, e aí começa o seu Verão em Barcelona. Até ao fim do filme Woody vai criando peripécias umas atrás das outras, mais, vai criando personagens como há muito não apereciam nos seus filmes. Com Vicky Cristina Barcelona, o realizador consegue retratar toda a sociedade em apenas 90 e poucos minutos. Sempre à volta do amor, das relações pessoais, de uma constante procura de um sentido para a vida acompanhada pela razão e pela emoção, sendo que sobre estas últimas vai mais longe, personificando-as em Vicky e Cristina.
Por um lado, assume uma posição céptica, por vezes quase crítica perante a sociedade convencional de hoje, isto é, perante uma sociedade que quase obriga, sob pena de rejeição social p.e., a que cada um dos seus membros siga "à risca" o convencionalmente aceite como "natural". Por outro lado, parece-nos que faz um pouco a apologia do boémio, do artístico, do amor simultâneamente "sexual-animalesco" com a perfeição intelectual da relação, não deixando de o criticar também. Coloca-nos a exentricidade sexual e artística num lado, e o programado, o materialista e socialmente pré-definido noutro lado.
Com uma avalanche de sentimentos e cores quentes, Woody Allen nem parece um americano a realizar em Barcelona. Consegue com precisão, muito requinte, cosmopolitismo, um humor muito refinado e uma ironia muito própria, filmar a cidade catalã sem parecer um qualquer espólio fotográfico de um guia American Express.
Penélope Cruz está genuinamente bem ao interpretar Maria Elena, foi portanto merecidíssimo o Oscar que recebeu na categoria de Melhor Actriz Secundária. Scarlett tem a melhor prestação num filme do "seu realizador", mais, não parece a eterna "pão sem sal" que tantas vezes interpreta.
É ainda de referir que, a caracterização física de todos os personagens está tão intimamente ligada ao seu ser comportamental, facto que os torna ainda mais convincentes.
Finalmente, a confusão sentimental de todos os personagens encontra-se intimamente ligada à própria "confusão arquitectónica" de Gaudi ou ainda, à própria confusão do Homem de hoje. Por isto, o filme parece-nos que acaba do mesmo modo como começou: afinal, o Homem não muda em menos de duas horas (tempo real do filme) ou num Verão em Barcelona(tempo da narrativa).
Nota: 9

2 comentários:

  1. Gostei! Possivelmente é por causa da "confusão sentimental" das personagens que eu adorei o filme, assim como será pela "confusão arquitectónica" que me apaixonei por Barcelona... talvez porque aí encontre alguma da minha própria confusão, ordenada!

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  2. Até gosto das tuas críticas mas não concordo nem um bocadinho com esta tua... Pseudo filme de Almodovar americanado, Penélope a não merecer o Oscar, Scarlett a continuar cada vez mais ser um pão sem sal... Positivo? Rebecca Hall! Sublime!

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