3.05.2009

L'Heure d'été

Antes de sair de casa para ir à aula de francês a vontade era pouca ou, mesmo nenhuma em atravessar a Avenida da Boavista até à Alliance Française. Porém, o mesmo estado de vontades depressa se alterou quando a encantadora Professora nos oferece convites para a ante-estreia de um filme. Estado de vontades: (agora), no seu melhor; (apesar de ser nas pouco confortáveis salas - sem pipocas - do Cidade do Porto). Pois bem, vim de lá agora.

L'Heure d'été - Tempos de Verão, do realizador Olivier Assayas, também ele realizador de Paris, je t'aime, traça-nos um simbólico retrato familiar de uma alta burguesia intelectual tão ao estilo francês. O pretexto que inicia o filme é o 75º aniversário de Hélène , (tão brilhantemente interpretada por Édith Scob), no qual toda a família se reúne. Frédéric (Charles Berling) vem de Paris, Adrienne (Juliette Binoche) de NYC e, Jérémie (Jérémie Rénier) de Shangai. Eles e os filhos se reunem na casa de Hélène na province, para o único encontro anual da família: o aniversário da primeira.
Podemos afirmar que tal como as três gerações presentes no retrato familiar que faz cartaz da película, o realizador também dividiu o filme por três partes.
À primeira vista, tudo parece simpático, agradável, "saudável". Contudo, o presentir da morte por parte de Hélène leva-a a falar, quase repetindo-se sobre o seu fim e, as consequentes consequências disso. Mais, quando se vê de novo sozinha, o peso da solidão aumenta.
Com a sua morte, os três filhos começam por discutir sobre o que fazer à casa, à vastíssima colecção de arte, além do valioso espólio de mobiliário de Arte Nova. Decidem a venda da primeira e de parte da segunda, vendem a terceira ao Museé d'Orsay de Paris. De notar que, é a casa, o epicentro do desenrolar da narrativa. Também ela, tal como os personagens, vai mudando, pelo menos de estatuto para estes: de casa de família, a imóvel em avaliação repleto de arte, também ela em avaliação, para, finalmente e já em fase de pré-venda, se encontrar vazia de personalidade abrigando uma rap party organizada pelos netos de Hélène. A descrição destas três gerações de uma família está notável: o permanente simbolismo visual do vestuário e dos espaços vai acompanhando o tempo e as suas evoluções. Desde espisódios como Hélène ter sido a última paixão do seu cunhado, um famoso pintor, e daí ter havido uma relação ente ambos, passando por hábitos em fumar droga por parte filha de Frédéric, a qual fora educada (liberalmente).
Um bom e agradável filme que reflecte sobre o valor da memória (colectiva, familiar, enfim) e do passado, tantas vezes hoje desvalorizado socialmente: tal como Hélène diz à sua filha Adrienne, "gostas pouco de coisas com o peso dos anos".
Uma produção do Museé d'Orsay seleccionada nos Festivais de Cinema de NYC, San Sebastian e Toronto. Uma longa-metragem que só nos apetece voar amanhã para Paris!
Nota: 8

1 comentário:

  1. Um filme leve e despretensioso...fresco e leve como o verão...sem pretensões de pseudo-intlectualismo que o cinema françês tanta vezes tem, gostei. Um filme que se vê bem com um argumento que tantas vezes todos nós já passamos...memórias de familia e gerações várias numa mesma familia.

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