3.17.2009

A corte do norte

Vezes há em que vou duas vezes por semana ao cinema (um número razoável), outras como hoje em que vou duas vezes no mesmo dia. No mínimo excêntrico.
No âmbito do "Ano Agustina", coincidente com o 55º aniversário da publicação d'A Síbila, Serralves exibiu hoje, em estreia, no seu grande auditório A corte do norte, a mais recente longa-metragem do realizador português João Botelho; uma película adaptada da obra de Agustina Bessa-Luís.
Com uma sala repleta de grandes nomes das artes, como Ângelo de Sousa ou Manoel de Oliveira, e, outras tantas "sumidades" e/ou intelectualidades, umas em negro integral, quais verdadeiros críticos de arte, outras em pop kitsch, como Ricardo Trêpa numa variante I love moNeY, Inês Pedrosa do Instituto Camões, autora de Fazes-me falta, discursou na qualidade de promotora/organizadora da exposição "Agustina Bessa-Luís - Vida e Obra", tecendo os maiores elogios ao génio literário da escritora, seguindo-se João Botelho, o qual elogiou bastante o seu mestre Oliveira criticando por outro lado, Pinto Ribeiro (MC), pela apatia cultural para com a cultura e para com os artistas portugueses.
Sobre o filme: parecia uma reprodução manoelista. Ninguém diria portanto que, João Botelho realizara Corrupção em 2007, ou ainda, A mulher que acreditava ser Presidente dos Estados Unidos da América em 2003. É quase uma analepse temporal do ponto de vista artístico, sabendo que o cineasta realizara a obra Quem és tu? em 2001, filme adaptado da obra Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett.
Em A corte do norte, assistimos a uma realização dos pormenores (afinal como o próprio realizador afirmou hoje, "quando não há dinheiro para filmar uma carroça, então que se filme bem a roda"), uma realização das sombras e de um certo jogo de luzes. Tal como em Manoel de Oliveira a interpretação dos actores do filme confunde-se, por ser igual, à interpretação dos actores em teatro, qual representação oitocentista onde se troca o vulgar e informal diálogo, pela formalização/rigidez do diálogo em prosa.
Acerca da narrativa: a história de uma família, os Barros, uma família burguesa-aristocrata do Funchal. Uma família mitificada por Emília de Sousa, ou Rosalina de Sousa, ou a baronesa da Madalena do Mar, uma família marcada, e, de um certo modo com uma triste sina graças àquela mulher. Ana Moreira (actriz principal) tem com esta obra, uma boa estreia na interpretação cinéfila, interpretando várias mulheres, em vários tempos, sempre no Funchal, e que terminam todas, sem excepção, n'A corte do norte. Várias mulheres que mais parecem uma só, enfim, uma mulher intemporal sempre inadaptada ao seu tempo, bem como, às convenções sociais que o acompanham e caracterizam.
Em suma, se há quem coloque ou identifique um género ou corrente literária para Agustina Bessa-Luís, admito que se torne algo redutor: Agustina tem por um lado, o dom em cantar um Portugal, tal como Camões ou Pessoa; tem o dom de criar uma situação enjoativamente ultra-romântica, tal como Garrett (nalgumas obras pelo menos); e, por outro lado, o dom da análise, observação e crítica social, tal como Eça. Não entendo que haja portanto uma "gaveta" onde poderá ser, (por motivos de simplificação para alguns), encaixada.
Não sou de todo, grande apreciador ou admirador deste género de realização e forma de interpretação, não deixando no entanto de reconhecer uma certa qualidade do filme, daí a nota abaixo indicada.
Nota: 7

5 comentários:

  1. dar 7 a este filme e 9 a vicy cristina só denota que este blog é um blog de gostos pessoais e não de critica de cinema neutra

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  2. Uma crítica de cinema é uma manifestação de um gosto pessoal, nada mais do que isso.

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  3. não concordo...a critica de cinema como qualquer outra critica deve tentar ser imparcial...

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  4. O que é que a palavra "crítica" tem de imparcial??? Imparcial é uma reportagem, uma descrição de factos...

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  5. CALMAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA tu deste 9 de uma escala d 0 a 10????????????????para quem tem tantas certezas sobre os ditos trash movies, acho q te escapou um a esse olho felino

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