3.23.2009

The Wrestler

Depois de ter ficado em falta (por não ter visto e já não estarem nas salas de cinema) com Frost/Nixon, Rachel Getting Married e The Visitor, decidi ver hoje The Wrestler - O Lutador, do realizador Darren Aronofsky.
Brainstorming superficial sobre a película: achei um filme que se possa dizer "mediano"; o protagonista tem uma interpretação sublime; a narrativa em si, isto é, o argumento propriamente dito, não me encantou.
The Wrestler conta a história de Ron ou Randy Robinson, The Ram, um lutador caído em desgraça que, vinte anos antes, nos 80s, fora cartaz de muitos combates, alcançando a fama e o dinheiro. Hoje, vive sozinho numa roulote (ou no seu carro), com problemas de sustento económico, além de não ter família, Randy é a autêntica "diva esquecida". Depois de um combate, vem a ter um enfarte, alertando-lhe o médico de que teria que deixar o wrestling, pois poderia morrer. Enfim, as situações secundárias da narrativa como, a relação díficil que mantém com a filha Stephanie (Evan Rachel Wood), ou ainda, a (única) amizade que tem com Pam ou Cassidy (numa óptima interpretação de Marisa Tomei), vão surgindo entre lutas, lutas e mais lutas.
O maior valor acrescentado da longa-metragem é sem dúvida Mickey Rourke. Tem uma interpretação genuinamente fantástica. É o homem esquecido, abandonado (talvez até por si, dado o seu percurso de vida), ferido, que é mais esteróides que "cabeça", mas que não deixa de ter emoção, sentimentos, coração. Como (quase) repetidamente foi dito depois de ter ganho o Golden Globe e o BAFTA, o filme retrata a vida de um lutador, sendo que, é de tal forma semelhante à vida profissional e artística de Rourke (afinal este optando por se dedicar ao Boxe, abandonou (em parte) o cinema no final dos anos oitenta, passando a ficar apenas com fitas menores) que, mais parecem confundir-se o personagem com o actor. Discordo em parte: Randy começa e acaba no filme da mesma forma; Rourke "ressuscita dos anos 80" não para a fama, mas para o reconhecimento do público e da crítica. Com uma caracterização física extremamente adequada ao seu "eu" e aos espaços em que se vai movimentando, Rourke é ainda "filho" de uma geração onde os plásticos, os brilhos e as brilhantinas, o mundo do show-off e das luzes, das quedas e ribaltas esporádicas, do heavy metal, das licras e cabedais justos, enfim, de uma geração que não reconhece a contemporâniedade do mundo actual (não se revendo nele) e que se sente uma "mera carne velha e esquecida", como chega a caracterizar-se a si mesmo. Rourke, ri, chora, sofre, luta, tem sexo num WC público, droga-se, enfim. É o actor certo para o concreto papel.
É ainda de referir a interessante analogia que se vai fazendo entre os personagens de Mickey Rourke e Marisa Tomei: tal como ele, ela é uma stripper "fora de prazo", gasta, e com uma enorme dificuldade nas relações humanas.
Acerca dos aspectos de realização, de notar que Aronofsky usa e abusa da câmara ao ombro, quase prototipando uma espécie de filmagem em documentário, adoptando uma visão neo-realista, fria, sem floreados ou efeitos especiais, crua e acima de tudo, tão humana sobre tudo, de todos os pormenores, (até mesmo dos aparentemente mais insignificantes); durante toda a narrativa, o realizador vai seguindo os personagens por trás, num verdadeiro plano de intimidade, proximidade e transparência.
Os espaços conseguem uma relação quase umbilical com a trama, a boate onde Cassidy se despe e que Randy frequenta é também ela um último resquício dos 80s.
Nota: 7

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