
Decidi ir à estreia (não do filme mas, do filme no Porto) do documentário vencedor de Oscar, na respectiva categoria este ano.
Man on wire - Homem no arame do realizador James Marsh, cria no espectador uma miscelância de sensações que, no limite quase se opõem.
O documentário expõe o nascimento, a preparação e a concretização do sonho de Philippe Petit: instalar um arame entre as torres do World Trade Center e, passar sem qualquer tipo de segurança de uma para a outra. Por um lado, retrata o surgimento de tal ideia que para o homem comum é absolutamente irreal e absurda, e, por outro lado, vai expondo importantes momentos da vida de Petit: desde passar as torres da Cathédrale Notre Dame de Paris, também por um arame suspenso, à repetição do mesmo "espectáculo", agora em Sidney.
Mesmo depois de ver Man on wire e, saber que se trata de um documentário, continuo a ter sérias dificuldades em acreditar como foi possível um ser humano ter feito aquilo. É extasiantemente utópico, e inumano tudo aquilo.
Deve notar-se também que, o impacto que o filme tem deve-se em muito à repetição excessiva de imagens das "Torres Gémeas", e daí o seu maior valor acrescentado. Mesmo sem haver qualquer tipo de referência aos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, é assunto que constantemente nos surge na memória, afinal, para certas gerações elas eram como que o ícone máximo do Ocidente, enquanto espaço de liberdade e democracia, elas eram o mundo dito civilizado num duo de edifícios.
Mais, Marsh implicitamente relaciona certa parte da vida de Petit com a construção do WTC, como que um crescimento acompanhado e mútuo.
Há um aspecto que o documentário (no seu final) insiste repetindo por diversas vezes, porquê tudo aquilo? Porquê aquele arriscar da sua própria vida? No fundo, é algo que serve como que voz do mundo inteiro, não havendo qualquer resposta de Philippe Petit aos seus quase "admiradores(as)". Concerteza nem ele a teria.
Confesso que não sou um devoto de filmes em documentário em sentido estrito, isto é, de documentários de per si, no entanto e, mesmo sabendo que toda a película fora realizada em estúdio, o trabalho de James Marsh tem um resultado positivo. Cria para o espaço da narração, aquilo a que se designa por backstage de um estúdio: os narradores são Philippe Petit e a equipa de pessoas que o ajudou à feitura do "crime artístico do século", tendo como "cenários" p.e. material de realização e/ou produção de cinema. O momento da narração, feita em discurso directo, acompanha todo o tempo em que esta vai descrevendo o tempo da acção. Este último, muitas vezes em noir, é um exemplo de uma realização de estúdio que mais parece uma filmagem pouco cuidada da época, designadamente o Verão de 1974, facto claramente propositado; ou ainda, uma mostragem de assombrosas fotografias a preto e branco que nos mostram o francês aparentemente suspenso no ar.
Um retrato das liberdades levadas literalmente ao limite, no caso personificadas por Philippe Petit, muitos próprias e características da geração de 70.
Nota: 7
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