3.19.2009

Man on wire

Já há alguém tempo que estava para ir ver um qualquer filme ao Teatro do Campo Alegre. Fui hoje, acompanhado de uma sala literalmente vazia. Diz certa crítica que, contrariamente aos restaurantes, quando uma sala de cinema está vazia ou quase vazia, significa que o filme é bom. Enfim, um mero barómetro (ainda) sem comprovação empírica.
Decidi ir à estreia (não do filme mas, do filme no Porto) do documentário vencedor de Oscar, na respectiva categoria este ano.
Man on wire - Homem no arame do realizador James Marsh, cria no espectador uma miscelância de sensações que, no limite quase se opõem.
O documentário expõe o nascimento, a preparação e a concretização do sonho de Philippe Petit: instalar um arame entre as torres do World Trade Center e, passar sem qualquer tipo de segurança de uma para a outra. Por um lado, retrata o surgimento de tal ideia que para o homem comum é absolutamente irreal e absurda, e, por outro lado, vai expondo importantes momentos da vida de Petit: desde passar as torres da Cathédrale Notre Dame de Paris, também por um arame suspenso, à repetição do mesmo "espectáculo", agora em Sidney.
Mesmo depois de ver Man on wire e, saber que se trata de um documentário, continuo a ter sérias dificuldades em acreditar como foi possível um ser humano ter feito aquilo. É extasiantemente utópico, e inumano tudo aquilo.
Deve notar-se também que, o impacto que o filme tem deve-se em muito à repetição excessiva de imagens das "Torres Gémeas", e daí o seu maior valor acrescentado. Mesmo sem haver qualquer tipo de referência aos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, é assunto que constantemente nos surge na memória, afinal, para certas gerações elas eram como que o ícone máximo do Ocidente, enquanto espaço de liberdade e democracia, elas eram o mundo dito civilizado num duo de edifícios.
Mais, Marsh implicitamente relaciona certa parte da vida de Petit com a construção do WTC, como que um crescimento acompanhado e mútuo.
Há um aspecto que o documentário (no seu final) insiste repetindo por diversas vezes, porquê tudo aquilo? Porquê aquele arriscar da sua própria vida? No fundo, é algo que serve como que voz do mundo inteiro, não havendo qualquer resposta de Philippe Petit aos seus quase "admiradores(as)". Concerteza nem ele a teria.
Confesso que não sou um devoto de filmes em documentário em sentido estrito, isto é, de documentários de per si, no entanto e, mesmo sabendo que toda a película fora realizada em estúdio, o trabalho de James Marsh tem um resultado positivo. Cria para o espaço da narração, aquilo a que se designa por backstage de um estúdio: os narradores são Philippe Petit e a equipa de pessoas que o ajudou à feitura do "crime artístico do século", tendo como "cenários" p.e. material de realização e/ou produção de cinema. O momento da narração, feita em discurso directo, acompanha todo o tempo em que esta vai descrevendo o tempo da acção. Este último, muitas vezes em noir, é um exemplo de uma realização de estúdio que mais parece uma filmagem pouco cuidada da época, designadamente o Verão de 1974, facto claramente propositado; ou ainda, uma mostragem de assombrosas fotografias a preto e branco que nos mostram o francês aparentemente suspenso no ar.
Um retrato das liberdades levadas literalmente ao limite, no caso personificadas por Philippe Petit, muitos próprias e características da geração de 70.
Nota: 7

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